quinta-feira, 10 de abril de 2008

SAUDADES DO QUE NÃO SEI BEM

Curitiba... para os olhos do Brasil, em tantas opiniões que já ouvi, algo entre o gabarito e o modelo. Não estou aqui para odes e nem para desprezo... talvez, para constatação. Quem nasceu e cresceu aqui venha comigo... minino, isso aqui mudou. De vez em quando admiro as fotos do Cid Destefani por aí, e ao ouvir meu avô contar que no tempo da guerra dava tiro de canhão na Vila Hauer, me limito ao meu tempo e espaço, sem querer achar que o meu saudosismo é maior que o dos outros. De qualquer maneira, há talvez duas décadas, isso aqui ainda andava mais à pé do que de carro, a gente ia no cine Astor ou no cine Lido... Dia desses vi uma foto de um amigo no bondinho da XV... há uns 30 anos. Folhas de papel no chão, gente de calça saint tropez em volta, as crianças se lambuzando em tinta guache e lapis de cera. O tempo vai passando e você perde até a noção de quando inventaram as coisas... vai ficando preso na fresta da tua era, achando até que lápis de cera chegou a ser novidade algum dia antes de 1980. Me perdoem se estou desinformado, porque pode até ser que hoje ainda hajam crianças no final de semana desenhando sobre nosso petit pavet na Rua das Flores, mas mesmo que elas compareçam ali, perdeu-se tanta coisa nessa proliferação de gente e de modernidade. Calma, nada de me julgar como um combatente dos tempos modernos, aliás, estaria pecando por pieguice óbvia e repetitiva. Mas me lembro seriamente de quando era criança mesmo, e que morava ao lado do Parque Barigui, e cavocava no barranco de terra vermelha pra fazer bonecos, que catava galhinhos de pinus pra ajardinar minhas lúdicas criações urbanísticas em miniatura, que ficava na rua até depois de anoitecer, sem medo de carros, de bichos e claro, do homem. Isso me faz lembrar de uma história que um amigo meu me contou. Ele morava no Rio de Janeiro quando era pequeno, e um dia passando pelo viaduto Niemeyer viu umas casinhas de madeira no meio do morro do Vidigal, e achou estranho. Virou para o pai e perguntou: "pai, coitadas daquelas pessoas morando naquelas casinhas, ninguém vai fazer nada quanto a elas ?". Me conta o meu camarada que o pai lhe disse: "claro que vão, filho, isso é só passageiro." Às vezes fico de olhar absorto em Curitiba, vendo que aquela névoazinha da manhã parece estar sumindo, vendo que os adolescentes herdaram a cultura dos paulistanos (que copiaram os americanos) de usarem calções gigantescos e tênis que mais parecem bolotas de tecido em volta dos pés, e que vestidos assim destroem estações-tubo, picham e depredam telefones públicos por aí. De nariz torcido que observo que o Passeio Público virou uma ilha entre vias engarrafadas de carros com gente correndo atrás do incerto... ê, melancolia. O sentimento de entender que a humanidade e a simplicidade da nossa cidade e de quase todas está evaporando não tem remédio. Cada vez que paro num sinaleiro parece que tenho um espasmo no músculo do peito, vendo a piazada plantando bananeira no asfalto duro e jogando laranjas semi-secas num arremedo de malabarismo. A gente virou um número. Não tenho nem 4 décadas de vida. Imagino que tipo de saudade de outros tempo tem meu pai, que já fez 60. Fico sempre com medo do dia em que meu filho fizer a pergunta pra mim, aquela que meu amigo fez... "pai, ninguém vai fazer nada quanto a isso ?" Outro dia volto a murmurar sobre isso.

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