segunda-feira, 26 de maio de 2008

O melhor vinho é aquele que vc gosta ?

No finalzinho da tarde de hoje achei uma reportagem perdida no site do UOL, bem interessante. Sei que somos manipuláveis por informações incertas e por "achismos" quase o tempo todo, mas ao mesmo tempo temos que nos resguardar porque parece que tudo que é intitulado "um estudo da universidade de Bimington Hacksfield" (nome acidental criado agora, claro), dá mais credibilidade aos comentários.
Na verdade, como sabemos bem, hoje verdades são as mais convenientes e confortáveis... você pode procurar uma verdade do seu tamanho e da sua cor preferida que você acaba achando...
De qualquer modo, como tenho debatido com algumas pessoas como somos marionetes de sugestionamento e de ninguém mais é original, quando se trata de vinhos eu quero acreditar por muito tempo e com fé que a única maneira de ter o melhor é ser fiel ao que você está gostando. E claro, torcer pra não gostar demais do Mouton-Rostchild ou do Chateau Margaux, se é que você conseguiu bancar simplesmente experimentar...
Bem, dêem uma lida no estudo..
Hablamos despues...


domingo, 25 de maio de 2008

Quem pode lembrar sem medo pode ser plenamente.

Algumas constatações parecem ser tão simples que quando as fazemos até duvidamos de sua verdade.
O que chamam por aí de psicologia barata, os ditados populares e as frases óbvias não merecem tanta atenção exatamente porque se ressentem de uma elitização cultural ou um rebuscamento intelectual... Mas com o passar do tempo você começa a perceber que as verdades inegáveis tem dois caminhos: primeiro, elas estão tão na cara que você duvida delas e as relega a um segundo, a um terceiro plano.
Ali elas ficam, amuadas e enfraquecidas pela dúvida. Depois de algum tempo, quando você flertou com todas as suntuosas e as pretensiosas verdades, glamourosas ou exibicionistas, você acaba passando pelo quartinho escuro onde as óbvias ficaram guardadas, e como não tem muito mais a fazer, senta no meio da poeira e revira as folhas daquele velho caderno (como dizia o Leminski), se reencontrando. Elas retornam, seu segundo caminho... A vingança do pipoqueiro ? Talvez. Mas ainda bem.
Nesta sexta feira sentei com minha esposa e nossa filha (ainda na barriga), e cumpri meu ritual de apreciar um vídeo de música sacra. Como todo hábito muito pessoal, reconfortante e apaziguador.
Em determinado momento, um música que o quinteto de cantores entoava me abduziu.
Como numa cena de ficção espacial, fui engolido passando pelo tempo e pelo espaço, e de repente me vi com dez anos de idade, sentado numa sala tímida, na frente de um toca discos enorme, tinha acabado de tomar banho, no meio daquela sala tão familiar, com a bíblia na mão. Vestia um roupão de tecido de toalha, o som sujo e agradável do disco de vinil, ao fundo, uma mesa posta para a refeição em família, e o culto de sexta feira á noite preparado para começar.
Para quem não entende, os adventistas fazem cultos na entrada e na despedida do sábado, uma celebração de comunhão e um momento onde a família canta, reflete e lê a bíblia e ao final ora reunida e se deseja bom sábado ou boa semana.
A cena que me mostrava sentado naquele sofá fundo, com a face lisa da pele da criança, e a música, a mesma música que agora eu ouvia em meu moderno DVD, já com mais de 35 anos, fizeram um calor gostoso e íntimo se formar na minha barriga, e fechei os olhos para tentar compreender a profundidade disso tudo em mim.
A nostalgia não era a única sensação... mas a compreensão de que grande parte da felicidade que posso sentir hoje, com as pequenas coisas da minha vida que continuam acontecendo, é formada de memórias.
Memórias que às vezes saltam à minha frente, gritando a todos os pulmões: nós te fazemos feliz.
Nesta sexta feira, depois de tantos anos, compreender que o sentimento de complitude, a sen sação de que a vida me abraça com carinho é a soma de tantas sextas feiras. Aquele momento de flash back me esfregou no focinho a conclusão de que a melhor herança que alguém pode deixar pra um ser humano são as memórias.
Cotidianamente observo as dinâmica das famílias, dos casais e dos indivíduos. Trabalho com problemas, ouço problemas, vejo problemas assolando e fragmentando personalidades e assolando patrimônios emocionais.
Em alguns momentos, verifico que mesmo as vidas que individualmente parecem viáveis, que cumprem projetos de sucesso e que diante da sociedade parecem impressionar, carecem em determinados momentos dessa bagagem de boas memórias.
Ok, ok, não vamos caminhar naquela velha coisa de procurar falhas na vida alheia.
A minha vida é alheia pra outros, e sim, é também cheia de falhas.
Mas eu lanço facilmente um desafio a todos: minhas memórias contra as suas, pode ser no bafo, na búlica ou no pião... eu acho que ganho.
Não quero parecer tolo ou egocêntrico, ao contrário, sabem que estou brincando ou figurando minhas palavras com o desafio proposto, mas, mas... tanta gente que sorri na parede da minha memória (Belchior, com sua permissão), merece dividir comigo a sensação de ter me feito feliz. Ao mesmo tempo, merece um retrato pintado com o capricho e a dedicação de um herdeiro: o herdeiro de um baú de memórias, um baú entalhado e que carrego com prazer vida afora, e que me deu duas capacidades: amar e pensar.
No mais, sou meio ruinzinho, mas nesses dois talentos, me sinto bom à beça... hehe.
Como é inevitável sugerir e escolher uma moral da história, vou palpitar: no Natal, dê memórias. No aniversário: memórias com fita vermelha. Na formatura: uma caneta bonita e uma memória bico de pena. E no casamento, uma baixela de prata e um jogo de memórias de jantar... assim se fazem pessoas viáveis.
(Dedico esse post à meu pai, minha mãe, minha irmã, minhas tias Marle e Mirtis e meus amigos Michel, Henry e Sandro... eita passado bom !)